Imagine um cometa voando pelo nada do espaço. Ele se choca contra um planeta, causando destruição - mas também trazendo vida.
Isso porque pegando uma carona na superfície do cometa estavam minúsculos traços de matéria orgânica ou até mesmo ovos alienígenas, explicando como a vida poderia se espalhar pelo cosmos e chegar ao nosso planeta.
Panspermia (que significa 'sementes em todos os lugares') é o nome da teoria de que a vida na Terra pode ter origens cósmicas e tem sido debatida por cientistas e apresentada em obras de ficção científica.
Agora, um grupo de quase três dezenas de cientistas de todo o mundo está fazendo um ajuste na teoria, sugerindo não que a vida mais antiga da Terra tenha origens no espaço sideral, mas que a panspermia pode ser responsável pela explosão cambriana.
Esse é um ponto na história da Terra, há aproximadamente 541 milhões de anos, quando a maioria dos principais grupos de animais aparecem no registro fóssil.
No artigo "Causa da Explosão Cambriana - Terrestre ou Cósmica?" publicado na edição de agosto de 2018 da revista Progress in Biophysics and Molecular Biology, 33 cientistas associam a ascensão de animais únicos à panspermia, sugerindo que muitas dessas criaturas relativamente bizarras e nunca antes vistas descendem de material estranho orgânico.
"É preciso pouca imaginação para considerar que os eventos de extinção em massa pré-cambriano foram correlacionados com o impacto de um cometa gigante com vida (ou cometas), e a subsequente semeadura da Terra com novos organismos celulares de origem cósmica e genes virais", escrevem os autores.
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Para aqueles que ficam entusiasmados com o fato de vários cientistas de renome terem desvendado o mistério das origens da vida, não é tão simples.
Este novo artigo não é baseado em novas descobertas ou pesquisas, é uma revisão da literatura que, em sua maioria, faz referência ao próprio trabalho existente dos autores. Mas isso é intencional, os autores reconhecem.
"Temos plena consciência de que o pensamento dominante sobre a origem e evolução futura da vida na Terra está firmemente ancorado no paradigma 'Terrestre'", escrevem os autores.
"Nosso objetivo aqui é facilitar uma discussão mais aprofundada nas comunidades das ciências biofísica, biomédica e evolucionária."
A Panspermia é, neste ponto, apenas um conceito, mas data de muito antes dos últimos cem anos ou mais da ficção científica moderna.
Na virada do século 18, o diplomata francês e historiador natural Benoit de Maillet propôs que a vida em todo o cosmos poderia ter sido "semeada" do espaço. E alguns estudiosos chegam a interpretar as reflexões do filósofo grego Anaxágoras de Clazomenae, que falava vagamente de sementes cósmicas há 2.500 anos, na mesma linha.
O jornal já gerou ceticismo.
A astrobióloga Frances Westall, por exemplo, aponta que, embora algumas formas de vida extremófila tenham sido observadas sobrevivendo ao vácuo do espaço por curtos períodos de tempo, as suposições desse novo artigo exigiriam que ovos, embriões ou outras células sobrevivessem milhares de anos, se não mais, no espaço.
"Infelizmente, é muito fácil extrair informações da literatura para apoiar a hipótese de alguém", disse Westall à Newsweek ao discutir o artigo. "A natureza é incrível e não acho que seja necessário recorrer a extraterrestres para explicá-la."
Traduzido e adaptado por equipe Conhecimento Agora
Fonte: HowStuffWorks